Não conheço melhor maneira de homenagear os escritores do que lê-los, lê-los sempre, lê-los apaixonadamente, intensamente ou lê-los apenas. Foi o que fizeram ao recentemente falecido patrono da nossa Escola, José Saramago. Para assinalar o sétimo dia da sua morte, e ao contrário dos ritos católicos que prevêem uma celebração eucarística, José Saramago foi lido por quem o quis fazer. A iniciativa teve lugar na Casa Fernando Pessoa e nesta maratona de leitura a obra escolhida foi O Ano da Morte de Ricardo Reis, lido na íntegra ao longo de quinze horas. Pilar del Rio, mulher de José Saramago abriu a maratona e a ela seguiram-se nomes sonantes das nossas letras e anónimos. Ler é mais belo que chorar. Saramago viverá para sempre.
segunda-feira, junho 28, 2010
sexta-feira, junho 18, 2010
sexta-feira, junho 11, 2010
Receita de Leitura (23)
Dose de Amostra
Um dia cometi a asneira de perguntar ao Anibaleitor porque é que ele não tinha televisão na gruta.
"Televisão?" Rugiu, furioso. "E para que queres tu tal coisa? Não tens livros que cheguem?"
"Bem, para ver programas giros..."
"Achas?" O Anibaleitor atirou um livro — salvo erro, uma edição de bolso do Orlando, da Virgínia Woolf— ao chão. "Olha, assobia para o livro, a ver se ele vai ter contigo."
Nem tentei assobiar. Já estava arrependido de ter aberto a boca.
"Ele não vem ter connosco se assobiarmos, pois não? A vida é assim, as coisas boas da vida são assim. Nós temos de dar um passo, as coisas não vêm até nós sozinhas, não há comando que nos valha, por mais botões que tenha."
"Sim, sim, já percebi..."
Mas o Anibaleitor estava embalado:
"A vida não é estar sentado num sofá a dar ao polegar à espera que apareça algo no ecrã a desenroscar-nos (ou desenrascar-nos) do nosso torpor."
Eu fiz, só para o arreliar, um ar banzado: "Não é?"
O Anibaleitor rolou os olhos.
"Bem, se quisermos a vida é isso, não passará disso, mas não me parece a melhor forma de a usufruir. Um livro exige que se vá ter com ele. Um ecrã com palermices não. É a diferença entre viajar e ficar parado. O livro obriga-nos a viajar, a TV a ficar parados feitos basbaques."
"Pois..."
"E viajar tem, quase sempre, mais graça do que ficar parado. Não te parece?"
Rui Zink, (2010), O Anibaleitor, Lisboa, Teorema.
Composição
O Anibaleitor de Rui Zink é constituido por princípios activos geradores de grande satisfação e bem-estar: um anibal buito grande, deborador de pessoas, muitos livros, um rapaz transviado por caminhos enviesados que reencontra o seu trilho através deste anibal, viagens e conversas em torno dos livros, da leitura e da relação que travamos com esses objectos pintados com tinta.
Indicações
Pela eficácia e abrangência dos princípios activos, este livro é muito bem tolerado por qualquer tipo de leitor dos dez aos cem anos. Se tiver mais pode e deve continuar a leitura, ler é profiláctico, quem lê vive mais, mesmo em menos tempo. O Anibaleitor tem efeitos eficazes de identificação noutros anibaisleitores, essa espécie em vias de extinção, frequentemente vista de livros debaixo do braço e a quem salta um livro a cada conversa, uma citação ou um autor. Leitores apressados e com sensação de impotência perante livros volumosos registaram uma melhoria na auto-estima ao perceber que ler pode ser rápido, divertido e bem-humorado.
Precauções
Leitores sugestionáveis devem ter alguns cuidados na leitura deste livro, já que o entusiamo pelas páginas de aventura pode causar sensação súbita de enfartamento. Aguarde um pouco e retome a leitura de seguida, o anibaleitor não tenciona partir. Indivíduos com tendência a procurar na realidade os mundos ficcionados nas páginas dos livros foram vistos a acenar na costa à procura do anibaleitor e a enviar livros num bote para o chamar. O anibaleitor é de humores, controle o seu ímpeto. Os amantes de leituras breves mas carregadas de metáforas experimentaram breves episódios de euforia mesmo depois de acabar o livro. Leitores de lágrima fácil e coração sensível sentiram uma leve comoção perante este King Kong literário.
Outras apresentações
A obra de Rui Zink não se restringe a ‘O Anibaleitor, não tem, pois, razão para não continuar. Continue com Hotel Lusitano e vá trotando páginas e livros. Descubra o anibaleitor que há em si.
quinta-feira, junho 03, 2010
terça-feira, junho 01, 2010
Subscrever:
Mensagens (Atom)