sexta-feira, outubro 26, 2007

Simpsonizem-se

E porque no De Mês em Quando a diversidade é importante, hoje não vamos falar de livros.
Marge, Homer, Maggie, Lisa e Bart.
Os Simpsons, claro. Quem não os conhece? E quem nunca deu umas boas risadas com as aventuras desta família em Springfield? Além do bom humor e das aventuras, os Simpsons distinguem-se pelo seu aspecto peculiar. Já pensaram se, em vez de sermos assim, como somos, cabelos castanhos, louros ou ruivos, tez clara ou escura, pudéssemos também nós ter aquele aspecto tão único? Foi isso que fiz. Vejam só, não estou aparecida?


Ousem e simpsonizem-se aqui.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Receitas de Leitura (2)

DOSE DE AMOSTRA

Na família Diogo cada vez mais se desenhava diferença de atitude em relação a Carnaval da Vitória. Os dois miúdos tratavam o porco como membro da família. Limpavam o cocó dele, davam-lhe banho e, todos os dias, passavam nas traseiras do hotel a recolher dos contentores pitéus variados com que o bicho se jibóiava.
O suíno estava culto, quase protocolar. Maneirava vénias de obséquio com o focinho e aprendera a acenar com a pata direita, além de se pôr de papo para o ar à mínima cócega que um dos miúdos lhe oferecesse na barriga.
Pai Diogo aferia o porco de maneira diferente. Para ele era tudo carne, peso, contabilidade no orçamento familiar. Indisposto de engolir o peixe frito, os olhos dele bombardeavam direito no porco para um balanço da engorda: «Estás-te a aburguesar mas vais ver o que te espera», e com a mão no pescoço mostrava-se aos filhos na forma de como se corta uma goela, «faca! é o fim de todos os burgueses!».


Manuel Rui, (2007), Quem me dera ser onda, Lisboa, Caminho.

Composição
Quem me dera ser Onda de Manuel Rui é uma novela em torno da existência urbana de uma família em Angola pululante de episódios rocambolescos. Pai, mãe, dois filhos e um porco partilham o sétimo andar do apartamento, mau grado a oposição dos vizinhos.

Indicações
Este livro está indicado para quem gosta de viajar no tempo e no espaço. Recomenda-se no caso de indivíduos com gosto pela fantasia, por prosas coloridas, por metáforas e que sejam atreitos à sedução das leituras que não se esgotam numa primeira vez. É muito bem tolerado por quem tem apreço pelas letras de expressão portuguesa com o calor dos trópicos e a cor da paisagem africana, ainda que urbana.

Precauções
Não se recomenda a indivíduos sem capacidade de dar umas boas risadas ou que tenham alicerces demasiados profundos em quotidianos sombrios e realidades lineares desprovidas de imaginação, humor e sátira. Está desaconselhado para amantes de romances longos. Podem verificar-se pontualmente episódios de ansiedade. Caso comecem a ocorrer sonhos frequentes com o Carnaval da Vitória ou pensamentos inquietantes sobre o seu destino, a leitura deve ser descontinuada imediatamente.

Posologia
Recomenda-se a leitura diária de algumas páginas não se conhecendo efeitos de sobredosagem. Desconhecem-se efeitos secundários de uma segunda ou terceira leitura.

Outras apresentações
Caso tenham sido observadas melhorias com a leitura de Quem me dera ser Onda recomenda-se a incursão em Estórias de Conversa do mesmo autor e em Os da minha Rua de Ondjaki.
Depois da edição em papel desta Receita de Leitura no passado dia 22 de Outubro, em comemoração do Dia Internacional das Bibliotecas Escolares, aqui fica on-line. Entretanto, se gostaram desta e da outra vão aparecendo por aqui.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Bibliotecas do mundo

As bibliotecas são um local de verdadeiro culto por um dos objectos mais amados da vida dos leitores: os livros. No silêncio que se deve observar para escutar as vozes das personagens e através das quais também o escritor dialoga com o leitor, existe uma comunhão que une leitor, escritor e obra escrita. Mas se algumas bibliotecas estão albergadas em sumptuosos edifícios, com as condições necessárias para a conservação dos livros, outras resignam-se à sua própria condição e nem sempre usufruem das melhores condições de funcionamento. Possuem, não obstante, o mais valioso ingrediente para o sucesso: a boa vontade, a determinação e o empenho. Assim é em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil. Um pedreiro, Carlos Luís Leite e a mulher, Maria da Penha Mello, resolveram utilizar uma das assoalhadas da sua própria casa para albergar uma biblioteca numa comunidade carenciada em São Gonçalo. A ideia surgiu quando Carlos Leite estava a fazer obras numa casa. O dono queria desfazer-se de seis volumes e o pedreiro pediu para ficar com eles. A partir daí nasceu esta enorme paixão, ainda maior se tivermos em conta que Carlos Leite teve de abandonar a escola muito cedo para trabalhar e que as letras lhe permanecem quase indecifráveis. A biblioteca funciona em sua casa, no Jardim Catarina, e, entretanto, os livros foram tomando o lugar dos seus guardiães que agora ocupam apenas uma ínfima parte da sua casa, literalmente empurrados pelos livros. Em 2005, a biblioteca comunitária contava com 5.000 exemplares, tendo o número duplicado entretanto. Todo o acervo da biblioteca foi doado e é mantido por Seu Carlos e Dona Penha. A biblioteca é gratuita e frequentada por muitas crianças que utilizam o espaço para seu proveito e para melhorar o seu aproveitamento escolar, bem como por adultos que respondem ao chamamento dos livros.
E esta estória daria um belíssimo argumento para um filme, dos que nos deixam o coração a sorrir muito depois de abandonarmos a sala de cinema. Contudo, ela é ainda mais bela e comovente porque é real e nos enche o coração de esperança que leva a acreditar que há sempre um caminho e que os livros podem surgir na adversidade para melhorar vidas.
Aqui fica a mais sentida homenagem a quem sem meios, sem nunca ter tido acesso a livros ou a um meio cultural que promovesse o contacto com livros, educação formal e cultura dita erudita, tem no seu âmago a mais bela e tocante das qualidades: uma generosidade tão genuína e abnegada que só pode encher de luz os corações dos amantes de livros neste Dia Internacional das Bibliotecas Escolares. Bem hajam, Seu Carlos e Dona Penha.

Ler mais aqui.
Imagem do mesmo sítio.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Destaque

E, acabadinho de chegar, temos este placard em honra ao mais recente Prémio Nobel da Literatura, Doris Lessing, com a cortesia e talento da patrona da Biblioteca/ Centro de Recursos, Professora Maria Luisa Barros.


fotos: minhas

quinta-feira, outubro 04, 2007

Dia do animal

Human beings are the only animals of which I am thoroughly and cravenly afraid.

George Bernard Shaw

Os cães porque são meigos, fieis, jamais abandonam o dono, colam-se-lhe exigindo atenção mas retiram-se se repreendidos, obedecem, entendem claramente as faltas em que incorreram, abanam o rabo ao pressentirem os amigos, lançam olhares meigos a que ninguém com coração consegue resistir e retribuem sem contrapartidas a entrega de quem os quiser estimar. Os gatos porque são belos e magnéticos, elegantes e independentes, têm uma personalidade vincada e não influenciável, são territoriais, leais e gratos se bem lhes fizermos e, claro, quem resiste ao ronronar ternurento num dia de invernia à lareira, da rodilha de pelo felpudo em que se transformam nesses mesmo dias cinzentos, abrindo apenas uma fresta de olho para que nos saibamos vigiados? E depois há os pássaros, coelhos, hamsters, tartarugas, peixinhos multicolores, répteis inclusive. Perceberão, pelas palavras acima desenhadas, que sou uma amante confessa e irrecuperável de gatos, prefiro-os aos cães, e portanto não posso concordar mais com Mark Twain: "If animals could speak, the dog would be a blundering outspoken fellow; but the cat would have the rare grace of never saying a word too much.” Uma questão de gosto apenas, esta minha paixão pelos felinos, mas uma coisa é certa, gatos, cães, periquitos, cágados ou coelhos, os nossos amigos a que chamam irracionais são uma fonte inesgotável de prazer, um prazer a que alguns escritores não são de todo indiferentes. Miguel Torga relata abundantemente esta relação tão especial e enriquecedora entre o homem e os animais, Eugénio de Andrade confessou também magistralmente com as palavras o amor pelos gatos –como o compreendo- e Manuel Alegre escreveu o amor transformado em livro pelo seu cão, parte integrante da família, que nós, os amantes de animais, conhecemos por dentro mas seríamos incapazes de escrever com tanta excelência.
Dizia Mahatma Gandhi que a grandeza de uma nação e o seu progresso moral podem ser julgados pelo modo como os seus animais são tratados. Se assim fosse, muito haveria a dizer sobre Portugal e o constante abandono verificado mais evidente nos períodos de férias. Deixo-vos com estas palavras, hoje que se comemora o Dia do Animal.
foto: minha
Caso queiram ler os autores citados, já sabem onde os podem encontrar, na nossa Biblioteca, pois claro.