quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Correntes d' Escritas 2010

Pelo décimo primeiro ano consecutivo a Póvoa do Varzim acolhe o grande evento literário Correntes d' Escritas. A lista de participantes inclui escritores de várias nacionalidades e línguas e o programa é completo, como sempre, com lançamento de livros. palestras, actividades em escolas, mesas-redondas e ainda uma feira do livro. Um verdadeiro marco na agenda literária do país.  

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Rescaldos

Tal como já tinha comunicado dois posts abaixo, dia 9 de Fevereiro, pela tarde, tivemos a visita de Jorge Vadio, acompanhado de João Mouzinho na percussão e de João André no acordeão. Foi sem dúvida uma momento alto desta semana de comemoração do Santo amoroso, mas, como se pode ver pelas fotografias, também houve mais uma vez, tal como ao longo da semana, participação de alunos e professores. Resta-nos esperar para o ano para que se repita o encanto.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Receita de Leitura (20)

Dose de Amostra
Uma noite, há uns dez anos, abri a porta de um elevador, no prédio em que vivo, e descobri duas minúsculas camas arrumadas, com grande esforço, no seu interior. Pendurada numa das paredes havia uma imagem da Virgem Maria, dragão aos pés, e do lado oposto uma fotografia colorida do rapper 50Cent, em tronco nu, pesada cruz de ouro a pender-lhe do largo pescoço de boi, apontando uma pistola à cabeça da Virgem Maria. Estendidos na cama estavam dois rapazes idênticos, muito, muito pequenos, um deles em bermudas de linho cru, bela camisa do tipo havaiana, e o outro envergando um elegante fato azul-escuro, camisa rosa, fina gravata negra. Cumprimentei-os estupefacto:
- Perdão - consegui dizer. - Isto não é um ascensor?
O jovem de fato azul sorriu-me com deferência:
- Foi, sim, meu pai. Agora é habitação.
O outro corroborou, divertido:
- Antigamente subia e descia. Actualmente só desce. Podemos chamar-lhe um descensor. Uma máquina concebida para aqueles que pretendam descer na vida.

José Eduardo Agualusa, (2009), Barroco Tropical, Lisboa, Dom Quixote.


Composição
Luanda, 2020. Bartolomeu Falcato, cineasta e escritor, e a sua amante Kianda, uma cantora de gabarito internacional presenciam uma cena inédita numa noite de tempestade tropical: uma mulher nua, negra e de braços abertos, cai do céu. E seguem-se páginas intensas numa realidade distópica, entre o absurdo e o abismo, na tentativa de desvendar o mistério. Que Luanda é aquela?

Indicações
Barroco Tropical está indicado para todos os leitores curiosos e ávidos de conhecer realidades díspares e distantes. Os amantes de prosas imaginativas, com laivos de fantasia ficaram globalmente satisfeitos pelas aventuras fantásticas de Luanda em 2020. Leitores atentos e socialmente preocupados encontraram nestas páginas a inquietação emanante de todos os textos poderosos e de todas as realidades prenhes de injustiça.

Precauções
Barroco Tropical deve ser lido com precaução por indivíduos românticos à procura dos pores-do-sol nostálgicos da Baía de Luanda. Nestas páginas não há concessões à felicidade perdida nem esperança numa harmonia vindoura. Os amantes de prosas simples sentiram alguma dificuldade em seguir o percurso das personagens em número superlativo e ficaram pontualmente petrificados com o Medo. Leitores inquietos experimentaram o fervilhar de uma cidade dividida entre ricos e pobres. Deve abrandar a leitura caso se sinta a subir à Termiteira ou à procura do Centro de Saúde Mental Tata Ambroise. Os amantes da leitura em geral sentiram a satisfação de estar perante um bom livro, cujas páginas perduram mesmo depois de devolvidos à estante.

Outras apresentações
Se José Eduardo Agualusa passou a fazer parte dos seus escritores preferidos, não hesite e procure outras leituras. O escritor é profícuo e possui uma vasta obra em que mostra também a sua faceta de contista. Ler vale sempre a pena. Ler liberta a alma.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Love is in the air

Há que estar atento, muito atento, porque o Dia de São Valentim está aí mesmo a chegar. Embora possa ser visto como mais uma manobra de consumismo desenfreado, pode também ser olhado como uma oportunidade de cantar o Amor. Quer queiramos quer não é este sentimento indefinível que faz girar o Mundo. E haverá melhor maneira de o festejar do que com palavras? Pois é isso mesmo que vai ser celebrado na nossa Biblioteca. De 9 a 12 de Fevereiro irão ser lidos textos em Português, Inglês, Alemão e Francês alusivos ao tema e no dia 9 pela tarde recebemos ainda a visita de Jorge Vadio, um filho da terra, com leitura de textos do Professor Adriano Alcântara. Aparece! E ainda uma sugestão: se queres fugir ao consumismo oferece palavras. Mais baratas que uma caixa de bonbons mas infinitamente mais doces no coração.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Captain of my soul

A história é comovente, tão comovente que quase parece ficção. Um líder político, presidente de um país a braços com a reconciliação do seu povo, separado durante 42 anos por um regime vil de segregação racial, um desporto reservado à minoria africânder e desprezado pela maioria negra, símbolo do país oprimido e dividido, e a tentativa de harmonizar as diferenças, apagar cores e construir uma identidade colectiva através desse mesmo desporto, o dealbar de uma nação unida. Esta estratégia de uma raríssima inteligência e intuição catapulta para a ribalta o capitão de equipa que a pedido do Presidente eleva os Springboks e, com eles, a nação, gritando em uníssono por um mesmo objectivo. Negros e brancos finalmente unidos. Nada seria igual dali para a frente. Se juntarmos a este argumento baseado no livro de John Carlin, Playing the enemy – Nelson Mandela and the game that made a nation, a realização de Clint Eastwood, Morgan Freeman no papel de Nelson Mandela e Matt Damon como François Pienaar, o capitão da equipa  nacional de râguebi, Springboks, obtemos um filme intenso, com momentos comoventes e empolgantes e a sensação de sermos mais um dos espectadores em Ellis Park a torcer pelos Springboks, sabendo secretamente que torcemos pela igualdade de direitos, pela reconciliação e pelos ideais de liberdade tantas vezes apregoados e outras tantas esquecidos. Martin Luther King orgulhar-se-ia do sonho realizado, o muro das diferenças derrubado não por decreto mas pela comunhão de um mesmo pulsar. E assim, uma nova alma e um novo país.
E diz-se por aí que Invictus não será o melhor filme de Clint Eastwood, depois de Million Dollar Baby e de Gran Torino, mas Invictus é certamente um filme belíssimo, sustentado pelo desempenho sóbrio e inexcedível de Morgan Freeman e Matt Damon. As cenas do jogo de râguebi são de uma rara beleza e mesmo sabendo da História que os Springbocks venceram os All Blacks naquele 24 de Junho de 1995, continuamos suspensos e vibramos na expectaiva da vitória, metáfora de esperança de um país que consegue finalmente gritar pelo mesmo ideal, um nós que substitui o eles proferido e praticado ao longo de quatro décadas de segregacionismo bóer. E Invictus de William Ernest Henley que perdura no ouvido It matters not how strait the gate/ How charged with punishments the scroll/ I am the master of my fate:/ I am the captain of my soul.

terça-feira, fevereiro 02, 2010