Se o amor acabasse, pensaram saindo do táxi com as malas e partilhando ainda o mesmo guarda-chuva antes de partirem para destinos diferentes,
se o amor acabasse,
todas as cidades se tornariam ilegíveis.
Teolinda Gersão,(2007), A Mulher que prendeu a chuva, Lisboa, Sudoeste Editora.
se o amor acabasse,
todas as cidades se tornariam ilegíveis.
Teolinda Gersão,(2007), A Mulher que prendeu a chuva, Lisboa, Sudoeste Editora.
Um homem solitário em Lisboa ouve a conversa de duas mulheres africanas, enquanto arrumam um quarto de hotel. Dois amantes com o corpo como ponto de partida deambulam por várias cidades europeias. Uma mulher tem um encontro imediato com um assassino em série nos transportes públicos em Berlim. São Francisco e Lisboa unidas pela similitude da ponte e uma família a braços com a crueldade de um cão descartável. Um viúvo reparte os seus dias rotineiros pela cidade de Lisboa. Um homem e uma mulher encontram refúgio em Roma. E, no entanto, A Mulher que prendeu a chuva, o mais recente livro de contos de Teolinda Gersão, não é um livro sobre cidades ou uma colectânea de contos de viagens. Crepuscular e sombrio, a única luz presente é a que ilumina o leitor pelas páginas do livro até ao fim, A mulher que prendeu a chuva move-se entre a morte, a partida literal e metafórica, a viagem pendular entre o eu e o(s) outro(s), a inquietude e a insatisfação, o desencanto do que ficou algures e ter-se-á perdido no labirinto de um tempo irrecuperável. Tudo isto em cidades. Cidades físicas, precisas, específicas, aquelas cidades e não outras. E as cidades, não determinando a acção, emprestam-lhe o carácter de cada uma delas. Um livro de partida para muitas viagens. Tantas quantas quisermos.