No dia de Pão-por-deus as portas de minha casa escancaram-se, um prolongamento evidente da alma risonha e desvelada. Espreito-os pela janela, depois do chilrear que habitualmente os denuncia. Descem a rua e encaminham-se decididos para a minha porta. Tocam à campainha. Abro-lhes a porta, dizem ao que vêm e, de saco aberto, pregam os olhos vivos e iluminados na mesa colorida com recipientes vários: rebuçados, chupa-chupas, moedas de chocolate e gomas. No olhar o sentido de justiça infantil e com ele escrutinam quantas moedas a um e a outro, quantos chupas e se todos levam em igual quantidade de cada uma das guloseimas ao dispor. De ano para ano o crescimento evidente. Alguns dispensaram, entretanto, a vigilância familiar e regressam mais confiantes à procura das moedas de chocolate ou das bolinhas, imprescindíveis neste dia de alma iluminada. Um beijo, uma festa na cabeça, agradecem felizes, com os sacos tilintando e os sorrisos inestimáveis. Até para o ano.
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