Os dedos noutros dedos. O miúdo que viu o avô paterno dizer-lhe adeus, de pé, em cima de um barco, está com Ela junto à Ria. Ela toca-lhe ao de leve na mão. O miúdo treme, mas é diferente de quando a criada levantava as saias e lhe mostrava o que ele queria ver. O miúdo que pedalava num carro de quatro rodas treme todo, sim, mas é outro tremor, poder-se-ia dizer um tremor de alma. À noite, no cinema, é ele que passa a mão pela mão de Ela. Os dedos entrelaçam-se. Ela faz-lhe uma festa na cara. Apetece ficar assim para sempre, mas o miúdo que gosta de caçar narcejas ainda não sabe que não há outra eternidade senão esse instante a escorregar-lhe por entre os dedos.
Manuel Alegre, (2010), O miúdo que pregava pregos numa tábua, Alfragide, Dom Quixote.
Composição
De cariz marcadamente autobiográfico, a mais recente novela de Manuel Alegre, O miúdo que pregava pregos numa tábua, conta-nos a história fragmentada do escritor. Da descoberta da sexualidade ao amor incondicional pela caça e a passagem pela Guerra Colonial em Angola, o miúdo, que não se sabe afinal se é o mesmo ou se será outro, narra as aventuras de mais de sete décadas de vida de forma escorreita e breve.
Indicações
O miúdo que pregava pregos numa tábua está indicado para todos os leitores sem qualquer excepção. Composto por princípios activos comoventes e enternecedores, este livro é muito bem tolerado por leitores diversos. Indivíduos curiosos sobre a existência subcutânea das outras almas dos escritores registaram sensações de bem-estar. Leitores com gosto por prosas poéticas assinalaram com agrado esta leitura fácil da história em ziguezague d’ o miúdo que pregava pregos numa tábua.
Precauções
Leitores sensíveis em busca da sequela do belíssimo Cão como Nós devem ler este livro com reservas. Caso procurem o Kurika nas páginas deste livro devem parar a leitura de imediato sob pena de se sentirem defraudados. Os amantes de prosas longas experimentaram momentos de irritação por terem terminado o livro em escassas duas horas. Se sentir uma leve perturbação ao pressentir nas entrelinhas um elogio discreto ao escritor deve abrandar a leitura, respirar fundo e pensar que toda a autobiografia é um acto de auto-elogio.
Outras apresentações
Se quiser saber mais sobre O miúdo que pregava pregos numa tábua mergulhe na vasta obra de Manuel Alegre que não se esgota num único género literário. Se é amante de futebol não perca o livro de crónicas sobre o desporto-rei e descubra ainda mais sobre este miúdo. Leia sempre, leia mais, leia tudo.
2 comentários:
E cá vim dar, não é? Portanto, de mês em quando, voltarei.
:)))
Gosto tanto de Manuel Alegre!
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