terça-feira, dezembro 07, 2010

Es weihnachtet

Não gosto de chuva. Não gosto de tempo cinzento. Não gosto de vento. Não gosto de frio. Odeio Inverno. Contudo, quando pela primeira vez fui ao mercado de Natal em Munique, no ano seguinte ao de Budapeste, depois ao de Praga e no ano a seguir ao de Viena, a minha vida mudou e passei a saber apreciar a vida estranha de uma encasacada entre iluminações, tendas de artesanato, anjos e coroas de flores secas aromatizadas com laranja, canela e cravinho e uma caneca de Glühwein, escaldante e perfumado, titubeantemente aconchegada entre as mãos gélidas, enganosamente cobertas de luvas invernosas. E não há sol nem calor. Há uma magia oculta, quem sabe reminiscências de Natais passados e felizes, no calcorrear de ruelas estreitas que sossobram às barraquinhas coloridas e decoradas com cuidado, a nuvem de ar espesso e branco que se eleva das verbalizações quase monossilábicas dos vendedores, conversa apenas no indispensável para que ocorram pequenas trocas comerciais, o dinheiro contado na palma da mão enluvada, rostos brilhantes encafuados em gorros pungentes e o pescoço envolto no carinho aconchegante de um cachecol volumoso, um obrigado e um adeus. A luz estridente que se propaga no contraste das noites precoces e assustadoramente negras de um Dezembro final, aromas que se desprendem das mais diversas iguarias, o restolhar mansinho dos passos vagarosos e da roupa volumosa dos transeuntes e o bater de perna mercado acima e abaixo sempre acompanhado da constatação tão óbvia do frio omnipresente. Estranhos prazeres para uma alma estival. Doce contradição. 

 Praga
fotografia minha

1 comentário:

Adriano disse...

Bem bonito. Bjinho.