terça-feira, abril 24, 2007

A luz dos Girassóis

Íamos já a descer as escadas para o bengaleiro, após um périplo algo demorado pela Neue Pinakothek, em que cada uma teve a oportunidade de se deleitar e fruir as obras a seu tempo, sem a pressão do que se tem de ver ou fazer. Uma visita a um museu quer-se tão demorada quanto o nosso interesse, sendo certo nem sempre o programa de viagem permite o que para uns será um luxo, para outros, uma necessidade.
É importante que tanto nas cidades como nos museus cada um de nós seja deixado a sós com tudo o que nos convida, a própria cidade, o quadro que nos chama, um monumento que nos encanta ou simplesmente o movimento das pessoas que passam numa cidade que se quer sua e que nós, meros visitantes, somos apenas dela por uma pequena parte de tempo, o tempo que lhe dedicámos.
E a Rita revelou-me, à medida que descíamos as escadas para recuperar as malas, malinhas e maletas, os casacos e cachecóis, que tinha gostado, é sabido que esta terá sido a pergunta que mais vezes formulei ao longo daqueles seis dias, e que tinha sentido uma coisa no peito quando viu os Girassóis de Van Gogh. Descansei e terei disfarçado um misto de emoção e de dever cumprido. De arte sei pouco, talvez apenas o que sinto. O que senti há umas duas décadas, quando, naquele mesmo museu me encontrei perante os Girassóis de Van Gogh, poderá ser assim definido, uma coisa no peito, um arrepio, uma faísca na alma. Quando a arte nos provoca emoções destas, vale a pena todo o esforço e vale a pena, mais uma vez, deixarmo-nos seduzir. Que assim seja sempre e que a Rita e todos nós tenhamos sempre coisas no peito. A vida só vale a pena assim.

foto: (minha) Os Girassóis, Neue Pinakothek, Munique


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