quarta-feira, maio 16, 2007

Dia da Espiga

E hoje no Dia da Espiga, feriado municipal cá no concelho, deixo-vos com uma estória de outrora, bem contada como a D. Lucinda já nos habituou e recheada de costumes e tradições das comemorações de dias da Espiga bem diferentes dos actuais.
Boa leitura e parabéns à autora!

Burricadas
I
No dia da espiga…
Em tempos que já lá vão…
Faziam-se burricadas
Que ficavam na recordação.

II
Formava-se um grupo
Para um dia bem passar
Rumo à praia da Ericeira
Para ver o lindo mar.

III
Rapazes e raparigas
Preparavam seus burrinhos
Quem não tinha burro seu
Pedia aos seus vizinhos.

IV
Arranjava-se um farnel
Peixe frito, queijo e pão
Uma pinga de bom vinho
P’ra alegrar o coração.

V
Depois de tudo ajeitado
Lá partiam… pois então
Cantando lindas cantigas
Uma delas… o malhão.

VI
A meio da viagem
E para tomar alento
Paravam no Pinhal dos Frades
Donde se avista o Convento!

VII
Era um pinhal cerrado
Nem uma casa havia
De vez em quando, um lagarto…
Toda a moça estremecia.

VIII
Mas vinham logo os rapazes
Mostrando-se todos valentes…
Mandavam-lhe uma pedrada
E elas… ficavam contentes.
IX
Recompostos do cansaço
Lá seguiam estrada fora
P’lo jeito de ver o Sol
Passava já uma hora.

X
Que alegria tamanha
À Ericeira chegar!
Iam dar de beber aos burros
E pô-los a descansar.

XI
Pagavam-se uns dez réis
Para os jumentos guardar…
No quintal duma senhora
Que era perto do mar.

XII
Chegado o grupo à praia
As botas se descalçava
Não se tirava a roupa
Porque tal não se usava…

XIII
Só de saias levantadas…
Nada mais que p’lo joelho…
Quando um rapaz espreitava
- Vira-te p’ra lá, seu fedelho…

XIV
Só usavam fatos de banho
As pessoas da cidade,
Diziam os pais de então
E era mesmo verdade.

XV
Depois do banho tomado
Só até ao joelhinho
Fazia-se uma grande roda
P’ra comer o farnelzinho…

XVI
A seguir… umas corridas
Mais alguma brincadeira
Naquele grande areal
Que linda era a Ericeira!

XVII
Era a hora da partida
O Sol dava o sinal
E já nos burros montados
P’ro ano seria igual!
XVIII
Rumo a Mafra, bem contentes,
Sem precisarem de apoio,
Alegres cantarolando
O “Bailarico Saloio”…

XIX
E eis que dando o sinal
Com os animais a zurrar
Adivinhando a chegada
Aos seus donos… ao seu lar.

XX
Cansados… mas contentes
P’lo dia bem divertido
P’ro ano haveria mais
Ficava logo prometido.

XXI
Eram assim as burricadas
Dos tempos que já lá vão
Que a memória não se apague
Que fique a recordação.


M. Lucinda Ferreira Jesus Silva Santos