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quarta-feira, setembro 29, 2010

Dentro de mim faz Sul

Além do prazer da leitura compro livros por quatro razões diferentes: pelo autor, se um autor me agrada compro tudo dele. Acontece-me sempre com Mia Couto, José Eduardo Agualusa, Mário de Carvalho, Ondjaki e mais recentemente com valter hugo mãe. António Lobo Antunes e José Saramago já fizeram parte desta lista. O primeiro saiu porque há escritores para a eternidade mas há outros que ocupam um lugar temporário, assim foi com Lobo Antunes. Continuo a ler as crónicas mas tendo em conta a infinitude de livros, resolvi pô-lo de lado e dar oportunidade a outros. José Saramago não foi obviamente uma escolha. A morte do escritor assim o ditou, talvez o maior drama para os leitores seja a morte do escritor, uma ausência irreparável na ausência de próximos livros. A segunda razão, que pode excluir esta primeira, prende-se com o título. Se o título for apelativo e se os primeiros parágrafos e outros que escolho aleatoriamente do meio do livro me agradarem é certo que, mais cedo ou mais tarde, comprarei o livro. A terceira razão é a opinião dos amigos e pessoas que considero, o mesmo critério que uso para as viagens, as opiniões selectivas de quem considero podem ser determinantes. A quarta razão tem a ver com a crítica, mas mais uma vez apenas se for feita por alguém em quem confio e não apenas mais uma língua de letras nos suplementos da especialidade.
Este último livro que comprei conciliou a primeira e a segunda razões. A primeira, o autor/escritor, Ondjaki, a segunda o título, Dentro de mim faz Sul. Não me consigo lembrar de um outro título que me tenha enchido a alma desta forma nos últimos tempos. Provavelmente porque também dentro de mim faz sempre um sul. Há um sol e um calor húmidos. Há o gemido dos coqueiros. Há sorrisos largos. Luas redondas e aromas de Verão. Há pores do sol com bruma e uma nostalgia redentora. Há mares calmos e turquesa, mares batidos e profundos. Chuvas fortes e cheiro a clorofila. Um calor húmido que nos abraça. Dentro de mim faz este sul e outros. Muitas vezes. Sempre.

quarta-feira, maio 09, 2007

Das Bibliotecas

E hoje apresento-vos um poema da preferência da professora Lurdes Fonseca, a professora Coordenadora da nossa Biblioteca/Centro de Recursos. Certamente não será difícil adivinhar porque terá eleito este... Ora leiam e, a seguir, procurem a Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade na nossa Biblioteca, mais uma presença imprescíndivel no nosso acervo. A professora Lurdes Fonseca está certa de que não se irão arrepender e que só podem sair mais enriquecidos desta viagem pela poesia. Eu, por mim, não posso concordar mais. Boa leitura então!


Biblioteca Verde

Papai, me compra a Biblioteca Internacional
de Obras Célebres
São só 24 volumes encadernados
em percalina verde.

Meu filho, é livro demais para uma criança-
Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.
Quando crescer eu compro. Agora não.
Papai, me compra agora. É em percalina verde,
só 24 volumes. Compra, compra, compra.
Fica quieto, menino, eu vou comprar.

Rio de Janeiro? Aqui é o Coronel.
Me mande urgente sua Biblioteca
bem acondicionada, não quero defeito.
Se vier com arranhão recuso, já sabe:
quero devolução de meu dinheiro.

Está bem, Coronel, ordens são ordens.
Segue a Biblioteca pelo trem-de-ferro,
fino caixote de alumínio e pinho.
Termina o ramal, o burro de carga
vai levando tamanho universo.

Chega cheirando a papel novo, mata
de pinheiros toda verde. Sou
o mais rico menino destas redondezas.
(Orgulho, não: inveja de mim mesmo.)
Ninguém mais aqui possui a colecção
das Obras Célebres. Tenho de ler tudo.
Antes de ler, que bom passar a mão
no som da percalina, esse cristal
de fluída transparência: verde, verde.

Amanhã começo a ler. Agora não.
Agora quero ver figuras. Todas.
Templo de Tebas, Osíris, Medusa,
Apolo nu, Vénus nua... Nossa
Senhora, tem disso tudo nos livros?
Depressa, as letras. Careço ler tudo.
A mãe se queixa. Não dorme este menino.

O irmão reclama: apaga a luz, cretino!
Espermacete cai na cama, queima
a perna, o sono. Olha que eu tomo e rasgo
essa Biblioteca antes que peque fogo
na casa. Vai dormir, menino, antes que eu perca
a paciência e te dê uma sova. Dorme,
filhinho meu, tão fraquinho.

Mas leio. Em filosofias
tropeço e caio, cavalgo de novo
meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas
me vejo viver. Como te devoro,
verde pastagem. Ou antes carruagem
de fugir de mim e me trazer de volta
à casa a qualquer hora num fechar
de páginas?

Tudo o que sei é ela que me ensina.
O que saberei, o que não saberei nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, abril 17, 2007

As melhoras!

Foi com apreensão que li que António Lobo Antunes está doente . A sua habitual crónica na revista "Visão" é de uma lucidez arrepiante, e mais uma vez, neste caso pelas piores razões, António Lobo Antunes nos faz sentir que a literatura não são apenas palavras escritas, letras desenhadas em carreirinhas umas a seguir às outras, são sentimentos e emoções que ficarão para sempre nas nossas memórias. Diz António Lobo Antunes O que farei daqui para a frente, se existir daqui para a frente? Livros, claro, foi para isso que me mandaram para o meio de vós*. Resta-me ter esperança e acreditar que muitos livros surgirão ainda daqui para a frente.


*A Crónica de António Lobo Antunes pode ser lida na íntegra na nossa Biblioteca/Centro de Recursos e no placard dedicado à Literatura e à divulgação de autores, da responsabilidade da patrona da Biblioteca, que se encontra no átrio para a entrada da Biblioteca e que este mês é dedicado a António Lobo Antunes. Boa leitura!

terça-feira, março 13, 2007

Primavera


Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Alberto Caeiro, Poemas
foto: minha