quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Mais do que apenas quinze minutos

Passam hoje vinte anos sobre a morte de um dos mais emblemáticos artistas plásticos do século XX, Andy Warhol. Warhol ficou para a história não só através da sua obra muito vasta e da Pop Art, movimento artístico a que pertenceu, mas também pela celebérrima frase/ideia de que todos temos direito aos nossos 15 minutos de fama, catapultando o cidadão comum para uma outra esfera longe do anonimato. Provavelmente a maioria de nós que lhe faz uso não terá noção de que está a citar Andy Warhol.
Notabilizou-se pela singular capacidade de transformar artigos do quotidiano e de consumo de massas em obras de arte. A lata de sopa Campbell é um dos exemplos mais significativos, se não o mais conhecido. Garrafas de Coca-Cola, notas de dólar, frascos de ketchup Heinz são também motivos presentes e representativos da civilização contemporânea de consumo. Recriou retratos de icons dos anos 60, como Marilyn Monroe, Elizabeth Taylor, Judy Garland, Elvis Presley e Marlon Brando, símbolos da sociedade americana e do mundo contemporâneo e ainda Mona Lisa, Mao Tsé Tung e Lenin.
Andy Warhol foi ele próprio uma personagem quase teatralmente encenada. Controverso, criador, criativo, único, os seus quinze minutos de fama não têm fim. Assim é com a arte.

imagem: Andy Warhol

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quarta-feira, fevereiro 21, 2007

António Lobo Antunes

António Lobo Antunes é uma dos mais consagrados escritores de língua portuguesa. Galardoado com vários prémios e várias vezes na mira do Prémio Nobel, conta com uma obra vasta, iniciada com Memória de Elefante na segunda metade da década de setenta.
Nas poucas vezes que brinda o público com as suas aparições, António Lobo Antunes deixa sempre bem clara a relação de profunda intimidade e comunhão com a escrita e algum desprendimento do mundo material em sua volta. Escrever, gosta de escrever, quer escrever e parece ter sempre um romance em gestação. A sua obra divide-se entre romances, três volumes de crónicas publicadas maioritariamente na revista “Visão” e um livro que compreende a correspondência que manteve com a sua mulher durante a Guerra Colonial em Angola. Detesta computadores, prima por manter a relação entre o papel e a caneta e, durante os anos em que exerceu psiquiatria no Hospital Miguel Bombarda, os romances foram desenhados nos blocos destinados às prescrições médicas.
O estilo inconfundível dos seus romances marca definitivamente uma nova geração e imprime um ritmo ímpar e inédito à narrativa. Goste-se ou não, António Lobo Antunes é uma referência incontornável das letras portuguesas contemporâneas e juntamente com José Saramago, com quem diz não entender porque o acasalaram, um cartão de visita além fronteiras da literatura portuguesa.

Conversas na livraria

Foi isto enquanto vasculhava entre livros na tentativa de me decidir Este? Este ou este? Ou nenhum mesmo, carecida que estou de espaço e tempo para albergar mais livros. A voz ergueu-se e com ela a brisa dos corpos em trânsito entre um e outro escaparate, nos corredores estreitos. Estão aqui, estão aqui todos, este é o último, depois tem aqui as crónicas. A voz feminina questionou algo que não se deixou decifrar na distância e no tom de voz baixo. O rapaz continuou Sabe que ele é um escritor que se ama ou se odeia. Tem uma forma muito diferente de escrever, escreve tudo o que lhe vem à cabeça ao mesmo tempo. Mas é importante, é sempre nomeado para o Prémio Nobel. A mulher continuou pedindo informações e explicações. Olhando para os romances esboçou um ar temente ao volume de páginas e, entretanto, dirigindo-se para uma outra estante na peugada do empregado, solicitou-lhe o Livro de crónicas. O empregado foi peremptório e verdadeiro. São três, os livros de crónicas: Livro de Crónicas, este aqui, que é o primeiro, depois o Segundo Livro de Crónicas e o Terceiro Livro de Crónicas. A mulher queria saber mais e retomou o tema dos romances. Qual, qual seria melhor? O rapaz aconselhou-a a talvez começar pelas crónicas, o busílis centrava-se na escolha entre os três volumes. Achei por bem acudir-lhe na decisão. Disse-lhe pois que eram bem diferentes entre si, sendo que o primeiro se destacava dos outros por ser menos autobiográfico. Opinião, pura e simples. A mulher quis saber Já leu? Respondi-lhe que sim, que já lera os três mas que o primeiro era o meu preferido. A mulher esboçou um sorriso delicado e simpático e manifestamente feliz por encontrar alguém que já tivesse lido o escritor sobre o qual subitamente o seu interesse recaía. A conversa espraiou-se para o próprio autor E viu-o, ontem na televisão? Sim, sim, vi. É extraordinário, não é? Sim, de facto. E já reparou como ele escreve? A rapidez? Fantástico! Pois, pois. E agora já tem outro romance escrito além deste que acabou de publicar. Eu disse que pela entrevista colhera a impressão que este livro não teria sido publicado anteriormente para não coincidir com a publicação do outro livro. Procurei-o na estante e vi o livro no escaparate bem de frente para ambas e disse-lhe aquele ali. A mulher ficou surpresa. Aquele? De cartas? Sim, um livro que foi publicado com as cartas que ele escreveu à mulher enquanto esteve na Guerra Colonial, em Angola. A mulher ficou alvoraçada. À primeira mulher? E eu, Sim, julgo que sim… A mulher continuou, desta feita, com um ar cúmplice de mulheres que confessam o indizível, a voz levemente mais baixa, Àquela, à Carmito? Sim, que ele e as mulheres… Agora o ar rapioqueiro Ai, António, meu ganda maluco! Restava-me desfazer o equívoco e dizer-lhe que não, que a mulher a quem dedicou os aerogramas não se chamava Carmito. Pressenti, no entanto, que se iniciaria uma conversa para a qual eu não teria respostas, os irmãos, os pais, as filhas, as mulheres. Esbocei um sorriso, desejei à senhora boa leitura e retirei-me. Depois da conversa, o leitor deve ser deixado a sós com o texto. Dois é companhia, três uma multidão. A Carmito que o diga.
Leonor Barros©
imagem: "Pública" nº 545/ 29 Out. 06

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

No teu Poema II

A segunda edição de No teu Poema tem um duplo significado.
Quando perguntei à Joana se queria participar, a resposta foi positiva e há umas semanas trouxe-me então este poema, que lhe fora oferecido. Parabéns ao Bruno por lhe ter dedicado este poema, parabéns à Joana por o merecer e dar a conhecer aos olhos e corações curiosos de todos nós. Comemorando-se hoje o Dia de São Valentim, que, consumismo à parte, se consagrou aos apaixonados, este poema não podia vir em melhor altura. Um bom dia aos dois! Que continuem felizes e inspirados. Deixo-vos agora com o poema:

A Vida

A Vida é o dia de hoje
A Vida é a sombra que foge
A Vida é nuvem que voa
A Vida é sonho tão leve
Quase desfaz como a neve
E como fumo se esvai
A Vida dura um momento
Mais leve que um pensamento
A Vida leva-a o vento
A Vida é folha que cai
A Vida é flor na corrente
A Vida é sopro suave
A Vida é estrela cadente
Voa mais leve que a ave
Nuvem que o vento nos ares
Nuvem que o vento nos mares
Uma após outra lançou
A Vida… pena caída
De asa de ave ferida
De vale em vale perdida
A Vida o vento a levou!
A Vida sem ti é sombria
Sem ti não posso viver
Sem ti não tenho alegria
Sem ti prefiro morrer!

João de Deus

O poema da vida da Joana Ferreira, 12º L

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Leituras

Karla Suárez foi uma das presenças na 8ª edição das Correntes d´Escritas, na Póvoa do Varzim. A escritora cubana, nascida em 1969 em Havana, reside actualmente em Paris, regressando, no entanto, a Havana todos os anos, tem publicado entre nós Os Rostos do Silêncio, o seu primeiro romance, premiado em Espanha em 1999 e 2000 e A Viajante, publicado em 2006.
A Viajante é uma narrativa apaixonante centrada em duas amigas, Circe e Lucía, juntas e separadas pelo rumo das suas vidas, tendo como ponto de partida comum o seu país natal, Cuba, e como pano de fundo recorrente mas subtil, a cubanidade matricial de ambas. Circe procura incessantemente o seu lugar, uma cidade que seja sua, e vai percorrendo nesta demanda vários países e cidades, São Paulo, Cidade do México, Madrid, Paris e Roma, mantendo contacto com a amiga Lucía, entretanto radicada em Roma, através de postais enviados no seu périplo. Circe, simbolicamente assim chamada, considera que cada cidade tem o seu tempo e, à medida que as percorre, compra um relógio novo, um para cada cidade, em sintonia com esse mesmo tempo, que ela espera sempre diferente. Para saber mais, nada como ler o livro...


Karla Suárez, (2006), A Viajante, Edições Asa.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Correntes d´Escritas

"Correntes d´Escritas" são um encontro de escritores de expressão ibérica promovido pela Câmara Municipal da Póvoa do Varzim. Este ano será a sua oitava edição e conta com a presença de sessenta escritores.
O evento decorrerá entre sete e dez de Fevereiro e inclui debates, encontros de escritores com alunos e professores, bem como a oportunidade de assistir a lançamentos de livros, sessões de autógrafos e homenagens. Será homenageada Ray-Güde Mertin, agente literária falecida recentemente, responsável pela publicação e divulgação de vultos das letras portuguesas e lusófonas em solo estrangeiro, entre os quais se contam José Saramago, António Lobo Antunes, Mia Couto e José Eduardo Agualusa. Homenageados serão também Carlos Paredes e Vinícius de Moraes, cujo aniversário se comemorou no Brasil no passado dia 25 de Janeiro.
Na edição que amanhã se inicia dar-se-á também lugar à fotografia com uma exposição fotográfica "Quartos de Escrita", da autoria de Daniel Mordzinski, em que são retratados escritores de renome em quartos de hotal.
"Correntes d´Escritas" são um evento importante na divulgação da literatura e um encontro incontornável na partilha das letras ibéricas.

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Fevereiro

E eis que chega Fevereiro. Fevereiro marca a transição. Ainda com alguma timidez, os dias tornam-se menos breves e sombrios. Aqui e ali, um verde que desponta, o sol que nos vai sorrindo no horizonte no ocaso de cada dia e a Primavera que se anuncia, pudica, um prenúncio indelével do que Março nos trará.